Os que não se vão e se tornam imortais.

Se alguém ficar passeando por esse blog irá se deparar com postagens muito recorrentes sobre a morte.

Recentemente tenho ficado muito pensativo e tenho sido afetado pela questão da morte. Tem sido algo incômodo. Não que eu tenha (tanto) medo da morte, mas é uma perturbação.

Reconheço que tenho vivido até aqui com a sensação que a vida é algo que deva, precise ou possa fazer algum sentido. Assim, a morte seria uma interrupção muito abrupta e involuntária que seria tragicamente um fim para uma vida que ficaria incompleta.

Afinal, quem desejaria a morte? Pergunta tola! Algumas pessoas tentam e conseguem o suicídio. Essa é outra questão, porém, imaginando ou partindo da hipótese que a maioria das pessoas deseja viver o máximo que pode, como lidar com o fato de que a morte não tem hora marcada e pode acontecer a qualquer instante?

Bom, essas linhas tentam desfazer isso! Sim, sou pretensioso ao ponto de dizer que ao escrever essas palavras passo a traçar um registro definitivo e que poderá ser consultado a posteriori. Talvez daqui mil anos alguém leia essas palavras e diga: "-Rodolfo Formigari escreveu isso em 11 de dezembro de 2016." Mas essas palavras, hoje, não tem muito sentido, apenas que deixam claro o que eu estive pensando naquele (ou neste) momento. Percebe? Ao ler isso, mesmo que eu quem escrevi já esteja morto, é como se eu estivesse dizendo isso que eu escrevi agora.

Assim, esse título, não é clichê: há os que se vão mas se tornam imortais. Há um ditado que diz que há homens que deveriam viver mil anos. De fato, são poucos, mas já passaram alguns pela Terra. Eu diria mais: há homens e mulheres que deveriam viver mil anos. Quero e preciso também desfazer na sua cabeça que não pretendo ser "imortal": outrossim reconhecer a imortalidade de outros e outras que se já se foram e ademais, essas linhas serão lida por muito poucos, por mim mesmo talvez, se muito.

Jean Paul Sartre, por exemplo, está na minha estante agora! Vivíssimo! Tão vivo que mesmo que posso crer que está mais vivo que eu, que, sem a pretensão de deixar um legado tão rico quanto o de Sartre, me esforço para a partir de hoje deixar algum legado. Pode ser algo ridiculamente pequeno, ou muito despretensioso, desde que seja sincero.

Se há algum sentido na existência, ele passa sobretudo pelo sentido que materialmente se solidifica na realidade pela nossa consciente interferência sobre ela. Essa busca por um sentido que pode até ser subjetiva, precisa, necessariamente fazer sentido para todo o mundo. Nada impede que um dia o fascismo seja a verdade dos homens. Assim, esse legado de nada interessa para todo o mundo pois se choca frontalmente com o respeito necessário que a humanidade precisa exercer sobre si própria. Essa é uma discussão para outro post.

Encerro dizendo que os que se foram, mas não se vão e se tornam imortais são mensageiros de um mundo que ainda não existe. Não foi experimentado pelo mundo o sabor e a delícia de um dia todos serem verdadeiramente livres. Esse mundo é possível, seria possível tudo isso se tornar real nesse mesmo segundo e a partir desse segundo esse mundo ser uma verdade. Bastaria "cada um fazer a sua parte" - você já ouviu isso, aposto um sanduíche de presunto!

Infelizmente o mundo real é muito mais duro e violento. Esse mundo não permite algo muito mais simples como garantir que todos possam comer todos os dias. ao menos as crianças que fosse. Ou seja, vivemos em um mundo onde há comida para todos, mas há bilhões de subnutridos. Isso acontece agora e inevitavelmente somos cúmplices desse crime humanitário que ocorrem em alguma medida. Eu sei que é duro ouvir isso, mas embora não pareça ser a vontade de muitos ou a maioria, essa verdade é absoluta. Neste segundo, neste minuto, nesta hora, neste dia, pelos próximos anos, provavelmente haverá fome no mundo.

É muito difícil mudar drasticamente alguma verdade, por mais simples que pareça, quando se trata de mudá-la em todo o mundo. Bom, se já passei a registrar para a eternidade o que eu estava pensando quando escrevi essas linhas, passei a contribuir, por mais desprezível que seja essa contribuição, com a alavanca que é puxada por muitos para virar a chave da história até que um dia o Sol trague a Terra.

Comentários

Postagens mais visitadas