A dor inenarrável da perda

Inenarrável é uma palavra cuidadosamente escolhida. Na noite de 28 para 29 de novembro de 2016 o avião da Chape caia próximo do aeroporto de Medelim. Não havia mais combustível no avião da empresa Lamia e por essa razão, talvez eu dedique outras linhas aqui: não quero manchar com revolta essas palavras que ainda carregam o luto pela partida de jogadores, comissão técnica e demais pessoas ligadas à Associação Chapecoense de Futebol, membros da tripulação inclusive o piloto que foi decisivo para a causa desse acidente trágico e 20 membros da imprensa, dentre eles Devair Paschoalon ou Deva Pascovicci, como é conhecido.

Não estávamos preparados! Nunca estaríamos, jamais, para algo tão profundamente doloroso e trágico. Mas estávamos preparados para torcer no dia 30 de novembro pela Chape em seu primeiro jogo da final da sula. Poxa, e eu sei o que é sentir isso. Nem a dor de uma derrota por um título que não vem há mais de um século é tão grande quanto a dor que torcedores, cidadãos de Chapecó e sobretudo e fundamentalmente amigos próximos e principalmente familiares dos entes queridos que se foram nessa tragédia estão sentindo e sentirão sempre por aqueles "caras" que foram lutar por um sonho e voltaram sem vida para casa.

Quem seria capaz de imaginar tão trágico desfecho para vidas que estavam tão ávidas por sonhos, promessas, desejos, vida, gols, glórias, vitórias, títulos...? Torço para a Ponte Preta e não conheci nenhum daqueles homens pessoalmente. Via no campo o Gil e o Josimar pela Ponte. Me lembro do Kempes jogando por outros clubes. Me lembro de vários jornalistas como o Vitorino Chermont, do Paulo Clement, do Deva, além do Cleber Santana, do Técnico Caio Júnior e outros como pessoas de bom caráter no futebol. Aliás, o futebol carecia de homens como eles, não era sem motivo que estavam numa final sulamericana!

Eu estava ansioso pelo jogo na quarta dia 30. Torceria para a Chape sem dúvida!

A solidariedade, profissionalismo, fraternidade, carinho e amor dedicados pelos adversários em campo e irmãos do Atlético Nacional de Medelin e do povo da Colômbia foram tão inquantificáveis que o Atlético Nacional de Medelin ganhou algumas dezenas de torcedores a mais no Mundial de Clubes que irá disputar ainda em alguns dias.

Eu não me sinto totalmente recuperado emocionalmente e como se a vida não fosse tão dolorosa, alguns dias antes o mundo perdeu a presença física de Fidel Alejandro Castro Ruz e hoje nos deixou Ferreira Gullar.

A vida segue, dolorosa nesses tempos que tem sido de perdas inenarráveis para as quais nunca estaremos preparados, mas deveremos aceitar. Pois a vida segue, dolorosa.

Adeus, jogadores e amigos da Chape que estavam naquele voo. Nunca esqueceremos de vocês. E assim seguiremos mais fortes.

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